Fundado em 2011, o U-Dub 420! Sound Sistema chega pra somar no Mapa Sound System Brasil. Conversei com o Zambi, que contou um pouco mais sobre a trajetória do sound paulistano, que é um dos poucos sound systems em formato digital (que usam computador em vez de toca-discos), e que tem um trabalho sólido e interessantíssimo com produções únicas. RESPECT!
(por Dani Pimenta)
“As ideias começaram a surgir no final de 2010 pro começo de 2011. O Cauê Salada e eu fundamos o coletivo “UnderZs Dub 420! – Sound Sistema”. Em seguida, entrou Victor Chapeloko e em 2013 o Bastian entrou como toaster do sound. Também tem os colaboradores que desde o inicio do coletivo somam muito, que é a minha irmã Cicelline, minha cunhada Mariana e um grande amigo, o Edson Slim.”
“Quando os 3 pilares da U-Dub se reuniram pela primeira vez foi em 2006, eu e o Salada tínhamos 14 anos e o Chapeloko 16. O Salada pixava e curtia um som, o Chapeloko tentava fazer umas rimas e eu tava tentado produzir umas bases de rap pro grupo que eu tinha com ele. A gente sempre se trombava pra trocar umas ideias e ouvir uns sons, uns raps, uns jungles, e outras coisas experimentais.”
“No final de 2008 e começo de 2009, por conta das audições nessas reuniões, todos ficaram fãs do selo Stone Throw e do Madlib, e então um belo dia ouvindo a discografia do Madlib achamos uma “mixtape” com uma seleção finíssima chamada “Blunted In The Bombshelter”, e graças a ela aprendemos a gostar muito de reggae. Logo depois o Salada conheceu e me apresentou a festa “Pressure Drop”, que rolava de terça-feira no antigo CCPC (O ORIGINAL), na Rua da Consolação. Dai já era…. não queria mais saber de outra coisa, toda terça cabulava aula pra ir pro baile! Na mesma época a gente também colava com um DJ de rap do quebrada (Pq. Bristol), o DJ Nillo, que foi o mano que me ensinou as fazer as ligações básicas de um sistema de som.”
“De 2009 pra 2010 o Chapeloko apareceu com umas musicas novas que ele dizia se chamar Dubstep. Na primeira vez que ouvi não gostei muito mas um tempo depois fui ouvir com mais atenção, ai foi “amor à segunda ouvida”. Logo começamos a pesquisar bastante sobre dubstep, e eu comecei a tentar produzir alguns sons misturando nossas influencias, o Salada curtiu a ideia e se envolveu também. Chapeloko ainda só queria rimar, e então começamos a baixar e produzir algumas coisas que a gostávamos de escutar, tipo uns “DubstepReggae”. Daí surgiu o “Selo “UnderZs Dub” (U-Dub). Na época não tinham muitas festas que tocavam Dubstep, nós também não conhecíamos muita gente que curtia e tampouco os produtores nacionais que faziam aquele tipo de música, até que um dia no show de uma banda de reggae de uns amigos no antigo Sattva da Alameda Itu, o DJ não pode ir e então demos a cara a tapa pra tocar dubstep pela primeira vez. A galera curtiu, e saindo dessa festa eu e o Salada começamos a conversar sobre a ideia de o selo U-Dub virar uma crew de DJs de dubstep e outras subvertentes digitais do reggae que a gente curtia mas que não se ouvia quase ninguém tocar.”
“Em fevereiro de 2011, no mês do meu aniversário, eu queria muito fazer comemorar com uma festa no formato Sound System em um centro cultural da quebrada, mas pros caras liberarem o ofício tínhamos que ter um álibi cultural. Então troquei umas ideias com o Bastian, que já fazia parte dos movimentos culturais da quebrada e já tinha um projeto em mente, o “Favela Underground Sound System”, que unia rap e sound nas favelas (e que agora virou um projeto sociocultural com apoio do VAI ). Dai chamei uns outros amigos que curtiam rap e reggae, uns que já ate colecionavam discos e acompanhavam o cenário “S.S” há bastante tempo, e que naquela festa discotecaram pela primeira vez.”
“E por último, alguns meses depois da primeira festa do Favela Underground S.S., eu e o Salada voltamos a conversar nossos projetos, mas dessa vez a ideia era montar um sound system que tocasse dubstep e reggae digital. E então começamos a promover nossas primeiras festas pra levantar uma grana, e comprar nossas primeiras caixas, e finalmente no dia 20/04/2011 fundamos o “UnderZs Dub 420! – Sound Sistema” ou “U-Dub 420! – S.S.”
No inicio o Chapeloko colava junto no selo mas não fazia parte do Sound, só colava pra rimar, e só de pois de alguns meses ele entrou oficialmente somando, e muito! Também podemos dizer que o Favela Underground S.S. foi o precursor de dois sounds residentes do Pq. Bristol, da U-Dub 420! S.S. do Shack Attack Sound’s, parceiros de longa data.”
“De inicio tudo era bem basicão. Fomos num tiozinho da quebrada que vende umas aparelhagens de som, e compramos uma torre completinha, em duas vias com um equalizador, uma potência de 2000watts, dois falantes de 15″, um de 18” bem fraquinho, duas cornetas e quatro tweeters. Cada um tinha seu Pc, seu cabo P2-RCA ligados na mesinha de som da Behringer e a gente se virava. Mas depois de um tempo, fazendo alguns estudos e passando debates desgastantes com alguns caras que criticavam bastante o uso de um computador em um sound, resolvemos vestir a camisa de verdade e assumimos o formato de Sound System Digital. Procuramos projetos de caixas de som que correspondessem à sonoridade que queríamos, fizemos as primeiras Hog Scoop’s do Brasil (até então são as primeiras que a gente sabe), e resolvemos não ter um toca discos em nosso Set-up. Só tocamos com computador. Música de computador produzida em computador e reproduzida no computador! A não ser uns discos de jungle que a gente tem, mas raramente levamos eles pra tocar. Afinal não temos toca discos! =]”
“Muita gente de fora olha e acha que é só baixar musica dar o play. Só que não! Nós não baixamos musicas do Youtube, pesquisamos outras fontes pra que o arquivo de áudio venha em boa qualidade. Gostamos de fazer mixagens tocamos produções próprias, usando bastante efeitos, samplers e muitas vezes brincamos com a forma de controlar a seleção no computador. Tem quem ache que é fácil mas a configuração de tudo isso é bem complicada e às vezes demoro dias pra ajustar os controladores e chegar numa configuração legal pra poder tocar. Um exemplo é quando, em vez de usar uma controladora MIDI, eu uso um JoyStick de videogame pra controlar os comandos do computador.”
“Com a ajuda de vários amigos que fizemos durante em nossa trajetória, conquistamos um bom público e também conseguimos introduzir o dubstep no cenário sound system de SP. Em 2012 a convite do Bagão Dubalizer, tocamos na Arena Sound System na Virada Cultural e lançamos nosso primeiro tune em dubstep, o “Grave na Mente” com a Cantayh Mc e Astrid Hage, e logo depois o Dom Lampa nos convidou para participar da 6ª edição da festa “Convocação Dub” que acontecia no Hole Club , onde ficamos como residentes por mais 20 edições junto com o Amanajé. Em Dezembro de 2012 participamos do lançamento do álbum Dubvibz, do Dubalizer com participação do Marcelo Yuka (ex O Rappa).
Em 2013, eu participei de duas coletâneas: “Poulp Up Brazil” que saiu pelo selo francês “Fresh Poulp” junto com varios outros produtores fodas, tipo Buguinha Dub, Dubalizer, Majestic e Dub Moviment, e “Baixas Frequências”promovido pelo selo Noudrags (Primeiro selo de Bass Music brasileiro). Ainda em 2013 também participamos da “Amostra Cultural do Grave” também com participação do Dubalizer e Marcelo Yuka, mais Ecoalaize e Cavalaska.”
“O coletivo é meio doido, todo mundo se conhece há quase 10 anos, dai a intimidade caga em tudo. É todo mundo xingando todo mundo tempo inteiro, mas sempre de forma bem humorada, e quando é pra trampar todo mundo trampa sem erro. Todos são bem profissionais. Mas… the zoeira never ends!
Infelizmente temos que dizer que estamos meio desfalcados… O Salada, uma das peças chaves da U-Dub, se encontra cumprindo 6 anos de reclusão na mão do sistema penitenciário desde 2012, mas mantemos contato através de cartas e sempre que rola alguma saidinha de feriado nós fazemos uma festa com o sound pra ele poder tocar e ver que estamos no corre só esperando ele voltar! Enquanto isso o Chapeloko e eu levamos como podemos.”
“A formação hoje é Siberson Zambi, idealizador da U-Dub 420, produtor musical, operador e seletor, co-fundador do F.U.S.S. (Favela Underground Sound System, projeto sociocultural junto com o Bastian); Cauê Salada, co-fundador da U-Dub 420, produtor, operador e seletor; Victor Chapeloko, eletricista, operador, seletor e co-fundador do selo U-Dub, Paulo H. Bastian, toaster e idealizador do F.U.S.S., Cicelline, colaboradora, administração e produção de eventos, Mariana, colaboradora, editora de vídeo, Edson Slim, colaborador.”
“O nosso principal projeto no momento é a festa “Ampli-Fyah!” que rola no centro de SP. Tínhamos a “Usp in Bass” em 2011 e 2012 mas depois de alguns problemas de vandalismo na festa, decidimos dar um tempo. Tem também a “Bass Massive” uma das primeiras festas que produzimos em parceria com a Noudrag’s, que de vez em quando nos fazemos uma edição ou outra. Em 2014 tínhamos a “Dub Massive” e a “Sound Culture” no Hole Club mas demos um tempo também. Nosso ultimo projeto foi a festa “Start Selecta” que une videogame e música digital.”
“A U-Dub desde o início nunca se dedicou muito às vertentes como roots, rockers, dancehall 80, 90 ou as mais tradicionais de sound, só tocamos tunes lançados a partir dos anos 2000, a não ser algumas pedras específicas. Nós gostamos de tocar sons com bastante sonoridade digital, samplers de games, filmes e synths. Dub, Jungle, Dubstep e Steppa e outras coisas com alguma influência disso tudo.”
“O objetivo é expandir essa vertente, somos um dos primeiros sounds assumidamente digital, junto com Amanajé S.S. e o KasDub Sounds e pretendemos se manter assim, promovendo o que poucos fazem por aí.”
“Ah! Mas e a mensagem ? Normalmente os tunes que tocamos são mais instrumentais e não têm muita voz, então temos sempre um bom toaster à disposição pra dizer o que tem de ser dito e passar as ideias construtivas que devem ser passadas. Temos algumas produções nossas, alguns dubplates pra finalizar, e assim que possível construir MAAAAIS caixas.”
“Esse ano ainda vamos lançar 2 trampos. Um é o “U-Dub Side Of The Rua”, meu primeiro álbum que vai sair pelo selo U-Dub com participações de vários caras fodas, Nocivo Shomon, Littlecar, Raggnomo e Goiano do Amanajé S.S. e o DDZ Ecoalaize faz parte da Noudragsz. E logo depois o “Rub U-Dub Style” EP que está em andamento.”
“LEMA DO COLETIVO –> “DE PIOR A PIOR SEM PERDER A POSTURA !”