Vamos dar um rewind até a década de 1970. Foi lá, na ilha de São Luis do Maranhão, que começou a rolar tudo que sabemos, ouvimos e vemos hoje em relação ao reggae e, consequentemente, ao sound system no Brasil. Existem versões várias para a chegada do reggae na ilha: alguns dizem que foi pelas ondas de rádio (por conta da proximidade geográfica do Maranhão com o Caribe), alguns dizem que foi pelos compactos que a produtora Sonia Pottinger soltava na mão dos marinheiros que saíam da Jamaica e que, porventura, chegaram ao Brasil.
Seja qual for a realidade – ou um misto de ambas – o fato é que a música no Brasil nunca mais foi a mesma desde então. O reggae entrou em nossos corações e mentes influenciando de uma forma irreversível. As radiolas começam a propagar essa cultura e essa sonoridade e acabam reverberando no Brasil inteiro, incluindo São Paulo e sua grande comunidade maranhense. E foi em São Paulo que a construção dos novos sistemas de som começou a acontecer em 2001, pelas mãos do Dubversão Sistema de Som, em um estilo diferente do que era visto nas radiolas e com os radioleiros, com outros formatos físicos das caixas, sonoridades diversas e outras especificidades, criando mais um caminho dentro do reggae no Brasil e dos sistemas de som.
Agora, com o lançamento do primeiro volume impresso da série Mapa Sound System Brasil, passamos a falar das grandes pioneiras da amplificação de reggae em território nacional, as radiolas! Afinal, são mais de duas centenas de radiolas espalhadas pelo Maranhão, conforme dados do Museu do Reggae Maranhão.
Começamos falando sobre a Radiola Itamaraty, uma das mais antigas e maiores do país. Formada por Pinto Itamaraty, Mr. Brown, Bacana, Roberthanco e Mr. John, a Itamaraty estreou em 1989, mas sua história começa um pouquinho antes, conforme relatado pela equipe.
“Antes da chegada do reggae os ritmos predominantes eram tango, bolero, merengue e músicas da Jovem Guarda e como no Maranhão não podia ser diferente, essas músicas eram executadas nas emissoras de rádio e em toca-discos denominados de vitrolas, onde as pessoas daquela época juntaram o nome rádio e vitrola, chegando ao nome “Radiola”, as quais animavam grande parte das festas de nosso estado.
O Reggae não era conhecido pelo seu nome, aparecia misturado aos outros estilos musicais e era solicitado como “música internacional”, mas não demorou a adquirir sua independência e conquistou São Luís, e assim surgiram as Radiolas de Reggae, especializadas exclusivamente nesse ritmo contagiante, que fez da nossa cidade a Jamaica Brasileira.
No meio dessa transformação estava o Sr. Raimundo Jackson, o Raimundão, que tinha uma radiola que tocava na Ilha e povoados vizinhos. Durante esse tempo Pinto, seu filho, sempre lhe acompanhou nos eventos. Em 1983, após a morte do pai, Pinto com a experiência e conhecimento que havia adquirido, comprou a Som Jorge, reformou e batizou como Rainha do Som. Em agosto de 1989 fez uma reforma e ampliação e estreou com uma festa no Turu a nova radiola de cor branca e com o nome de Musical Itamaraty.
Uma radiola que sempre teve como característica a inovação e a qualidade, ao longo dos anos passou a ser denominada “Itamaraty” e mudou a cor para roxo. Hoje é conhecida nacionalmente, consagrada pelos recordes de público em festas e chamada carinhosamente por “roxinha”.
Pinto fez várias viagens para a Jamaica e outros países para comprar discos e está sempre em busca de equipamentos modernos, nunca poupando esforços para investir e inovar. Como consequência de toda essa dedicação a Itamaraty até hoje tem um público fiel formado por diversos fã-clubes.
Em 1994, Pinto mais uma vez mostrando seu espírito empreendedor, fez da Itamaraty uma empresa, formalizou sua atividade e fundou a Itamaraty Sonorizações e Diversões Públicas. Então enveredou pelo mundo dos shows e trouxe para o Brasil ícones do reggae como Gregory Isaacs, John Holt, Donna Marie, Judy Boucher, Jackie Brown, Stanley Beckford, Eric Donaldson, Ken Boothe, Albert Griffths, Lloyd Parks e muitos outros, adquirindo credibilidade nacional e internacional como promotor de eventos.
A Itamaraty implantou muitas novidades, a princípio criticadas, mas depois seguidas por todos: foi a primeira a colocar o DJ de frente para o público, a implantar MDs, microfones sem fio, e primeira a colocar o mesmo nome em duas radiolas. Em 2008 a Itamaraty mais uma vez surpreende com a inauguração da nova Radiola que superou todas as expectativas. O empresário Pinto estreou no Centro de Comercialização de Produtos Artesanais do Maranhão (Ceprama) uma Super Radiola que contagiou o público com bonitas músicas e um som de qualidade que saía direto dos paredões espremidos pela multidão. Nascia naquela noite a SUPER Itamaraty. E no dia 11 de janeiro de 2014, mais uma vez Pinto Itamaraty inovou e sacudiu o mundo do reggae, lançando uma radiola surpreendemente potente e bonita, a MEGA Itamaraty.”