3º Mundo Sistema de Som (Belém – PA)

3º Mundo Sistema de Som (Belém – PA)

3º Mundo Sound System é de Belém, Pará. Depoimento concedido em 2016.

“Nosso interesse pela cultura de rua vem desde adolescentes, quando começamos a andar de skate. Crescemos ouvindo rap, rock, e o reggae veio no meio através de amigos mais velhos e também da cultura local de Belém, onde o roots reggae já toca há algumas décadas. Porém sempre nos fascinou o dub, as misturas de hip hop com o reggae, creio que justamente por esse envolvimento com o skate.”

“Em 2008 começamos (LB e Mikael) a participar de algumas festas de musica eletrônica fora do Pará, e levávamos nossos cases de CD com dub inglês e alguns roots para participar nos chill outs. Promovíamos também algumas pequenas festas de dub, e também participamos em alguns eventos, como a festa Kizomba Groove, no interior, que marcaram nossa caminhada.”

“Até que num festival que o Mikael estava, Dubversão e Zion Train se apresentaram, foi um divisor de águas para o Mikael presenciar aquela sessão. Pouco tempo depois, em 2010, eu (LB) viajei para Portugal e presenciei uma sessão marcante do Aba Shanti no dia do meu aniversário. Tínhamos sentido a musica reggae e o dub como nunca anteriomente.”

“Queríamos trazer essa cultura para Belém de algum jeito, e já tínhamos um projeto chamado Hakka Dub, onde tocávamos no notebook/cd essas vertentes que não eram muito comuns por aqui. Em abril de 2010 realizamos o primeiro baile com o nome 3º Mundo, quando trouxemos o cantor Ras Ital, até então mais conhecido apenas no Norte/Nordeste.

Em 2011 trouxemos pela primeira vez Bagão, Dom Lampa e Jimmy Luv de SP para um baile aqui, que foi um dia histórico pra eles e pro nosso cenário local. Lembro que nesse baile o nome 3º Mundo Sound System já estava no flyer.

Na mesma época o Rick D chegou de SP/RJ com mais vivências dessa cena, há alguns anos antes ele já tinha participado do primeiro projeto em Belém que flertava como modelo de selecta + deejay, chamado Alma Livre S.S, que já havia se desfeito. Após esse baile nos unimos mais e o Rick nos questionou se nós queríamos apenas fazer eventos ou realmente construir juntos o que se poderia chamar de Sound System (material físico como discos, caixas e produções próprias).”

“Nos anos seguintes trouxemos o Digitaldubs do RJ para sua primeira apresentação ao nosso lado e mais troca de experiências, e nesse meio tempo começamos a investir nos discos de vinil e continuamos a promover vários eventos fechados e abertos, na sua maioria em menor escala, sempre interagindo com vários personagens e elementos da nossa cultura de rua local e volta e meia recebendo ou trazendo alguém de fora pra somar.

No inicio de 2014 começamos a construir nossas primeiras caixas, nas quais passamos o ano de 2014 inteiro investindo e montando o que seria o primeiro setup do nosso sound system. Fazíamos os bailes apenas com duas scoops e caixas amplificadas, num porão bem louco do Xani Club, era insano tudo aquilo… Levamos o sound para as pistas de skate e comunidades pelas primeiras vezes nessa época. Essa etapa culminou com a vinda de Ranking Joe e Digitaldubs a Belém, onde no mesmo dia conseguimos terminar a nossa quarta scoop e por milagre, depois de vários “pulos de gato” e negociações, chegou nosso Preamp usado! Realizamos o baile com o sistema de som completo e nosso “pré” sendo utilizado pela primeira vez!”

“Em 2015 continuamos realizando bailes fechados e sempre que possível levando nosso sound para as ruas, especialmente para alguns bairros/comunidades desfavorecidos, porém com uma grande receptividade a nossa cultura e trabalho, como a Matinha em Belém, onde já tocamos e amplificamos várias vezes.

Conseguimos em 2015 trazer uma referência para nós, que é o Yellow P, para um baile e uma vivência aqui na cidade. Além disso recebemos amigos de SP (Massoni), PB (Furmiga Dub) entre outros convidados nos nossos bailes mensais. O ano culminou com um lindo baile com o cantor jamaicano Noel Ellis, e a ampliação da sessão de médios e agudos e a mudança do design dessa parte de nosso sound, além de uma nova pintura assinada pelo EdPaulo do Coletivo Cosp.Tinta.”

“Representando o 3MSS já tocamos no festival Eu Amo Sound System junto a vários sounds no RJ, amplificados pelo Digital Dubs(2014 e 2015), junto ao Dub Ataque, também no RJ, com Quilombo Hi-Fi e Radiola Preta em SP, com o I-Land Rebel em SC, Black Adam em PR, Megaton Dub e U-Preto no DF, entre outras capitais e cidades no Brasil onde as conexões sempre surgem.”

“O ano de 2016 mal começou e definimos como prioridade levar nosso trabalho para ainda mais lugares diferentes, seja na natureza, nas praças ou nas ruas, pois ao final de tudo, o dinheiro nunca pagou nosso esforço, mas os momentos sentindo o poder da música de Jah em todos os lugares que já amplificamos com certeza recompensam a nossa alma e do público que nos segue todo esse tempo.”

“Atualmente a equipe efetiva enxugou. Mikael, Leo Ferraz e Dudu moram em Curitiba (os dois últimos fundaram o Black Adam S.S), mas a conexão continua a mesma, família é família. Com essa mudança dos irmãos, eu (LB) fiquei como o único seletor original do 3MSS ao lado de Rick D e BlackZion como deejays(MC’s), e Sukah Salim na escaleta, ao mesmo tempo conto sempre com o apoio de pessoas que chegaram para somar, essas oriundas da cultura roots do vinil, como as respeitadas equipes de colecionadores Ethiopia Land e Dread System, a mais recente Café Jamaica e o parceiro Allan Selekta (desde os tempos da Kizomba Groove). Por ter me envolvido muito com os colecionadores de roots e me aprofundado muito nessa vertente, principalmente da década de 70 e o 80, os bailes do 3MSS acabaram pegando um clima mais “roots and culture” (apesar de sempre rolarem tunes de dancehall, steppas, rub a dub, ska etc), onde quase não tocamos músicas “de salão” e sim as raízes mais profundas do roots reggae, o que tem trazido um choque positivo para muitos regueiros mais “tradicionais” de Belém. Nossa vontade de mudar o panorama da cena reggae aqui está sendo seguida, e baile a baile, ano a ano, estamos alcançando o objetivo de unir todas as tribos em frente às caixas do primeiro Sound System do Pará e da Amazônia.”

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